domingo, 27 de janeiro de 2013

HISTÓRIA NA VISÃO DE BARBARA TUCHMAN


A Arte de Escrever História - Segundo Bárbara Tuchman


Autor: Fernando Nogueira da Costa

            Bárbara Tuchman é a historiadora de maior sucesso nos Estados Unidos, duas vezes agraciada com o Prêmio Pulitzer. Em seus textos e palestras, apresenta-nos lições sobre sua arte (1). Vamos compilá-las, com propósito didático. Divulgar a arte de escrever é um dever do ofício de professor e orientador.

            Escrever história de modo a encantar o leitor e a tornar um assunto tão cativante e emocionante para ele quanto para ela tem sido seu objetivo, desde o fracasso inicial com sua tese. Foi classificada como dotada de um “estilo medíocre”. Comentário dela sobre a tese: “tão bela – na intenção – e tão mal escrita”... o entusiasmo não tinha sido suficiente; era preciso saber também usar a língua. Visão, conhecimento e experiência não fazem um grande escritor, só com o domínio da língua que se tornará a voz dessas virtudes.

            Antes de mais nada, a paixão pelo assunto é indispensável para se escrever bem. Mas não basta. Bárbara descobriu que se aprende a escrever, escrevendo. Descobriu que um elemento essencial para se escrever bem é um bom ouvido. Devemos ouvir o som de nossa prosa. Em sua opinião, as palavras curtas são sempre preferíveis às longas. Quanto menos sílabas, melhor! Os monossílabos... são os melhores de todos!

            As palavras têm um poder autônomo, quase atemorizador, de produzir na mente do leitor uma imagem ou idéia que não estava na intenção do autor. O uso descuidado das palavras pode deixar uma falsa impressão que não se pretendia.

            Para Bárbara, o problema está no fato de que a arte de escrever lhe interessa tanto quanto a arte da História. Ela vê a História como arte, não como ciência. Quando escreve, é seduzida pelo som das palavras e pela interação de som e sentido. As palavras constituem material sedutor e perigoso, a ser usado com cautela.

            Pergunta-se: – “Sou, em primeiro lugar, escritora ou historiadora?” Ela mesma responde: – “As duas funções não precisam estar, e de fato não devem estar, em guerra. A meta é a fusão. Em longo prazo, o melhor escritor é o melhor historiador”.

            A História é vista como literatura, em oposição à História como ciência. Sua exposição deve ser feita em todo o seu valor emocional e intelectual, a um amplo público, através da difícil arte da literatura. Note-se: “amplo público”! a ênfase deve sempre ser dada à escrita para o leitor comum, em contraposição à escrita apenas para os colegas eruditos. Quando escrevemos para um público amplo, temos de ser claros e interessantes. Esses são os critérios que determinam um bom texto.

            O leitor é a pessoa que deve se ter sempre presente. Escrevamos nossos textos com um cartaz pregado acima de nossa mesa, perguntando: “Irá o leitor virar a página?”

            O objetivo do autor é – ou deveria ser – manter a atenção do leitor. Querer que o leitor vire a página e continue a fazê-lo até o fim. Isso só acontece quando a narrativa avança com firmeza, e não quando entra num impasse, sobrecarregada de todos os detalhes descobertos na pesquisa, significativos ou não. Contra o texto tipo “rol de roupa”, o lema: “a exclusão de tudo que é redundante e de nada do que é significativo”!

            O leitor é a outra metade essencial do autor. Entre eles há uma ligação indissolúvel. São necessários dois para cumprir a função da palavra escrita. Os escritos não nascem não têm vida independente, enquanto não são lidos. Logo, primeiro é preciso prender o leitor.

            Bárbara é, em primeiro lugar, uma escritora, cujo assunto é a história, e cujo objetivo é a comunicação. Tem sempre presente o leitor como um ouvinte cuja atenção deve ser mantida, para que não se vá embora.

            Quem escreve tem várias obrigações com o leitor, se quiser conservá-lo. A primeira é destilar. Deve fazer o trabalho preliminar para o leitor: reunir as informações dar-lhes sentido, selecionar o essencial, rejeitar o irrelevante – sobretudo rejeitar o irrelevante – e colocar o restante de modo a formar uma narrativa dramática que se desenvolve de modo a capturá-lo. Oferecer uma massa de fatos não digeridos é inútil para o leitor. Constitui simples preguiça do autor ou pedantismo para mostrar o quanto leu.

            O produto final é resultado daquilo que se escolheu para incluir, bem como daquilo que preferiu deixar de lado. Colocar tudo, simplesmente, é fácil – e seguro – e resulta numa dessas obras de 900 páginas, nas quais o autor abdicou e deixou a leitor todo o trabalho.

            Para eliminar o desnecessário, é preciso coragem e também mais trabalho. Pascal terminou uma carta de 4 páginas a um amigo dizendo: “desculpe-me tê-lo cansado com uma carta tão longa, mas não tinha tempo para escrever-lhe uma carta breve”.

            O leigo em geral subestima a escrita e se impressiona demais com a pesquisa, como se essa fosse a parte difícil. Não é. Escrever, como um processo criativo, é muito mais difícil e leva duas vezes mais tempo.

            O mais importante na pesquisa é saber quando parar. Devemos parar antes de ter acabado. Sem isso, nunca paramos e nunca acabamos.

            Como copiar é um trabalho e um aborrecimento, o uso de cartões – quanto menores, melhor –, para anotações, força-nos a extrair o que é rigorosamente relevante, a destilar desde o começo. A seleção é que determina o produto final. Por isso, é melhor usar apenas material das fontes primárias. As fontes secundárias são úteis, mas perniciosas. Use-as como guias no início de um projeto. Mas não acabe simplesmente reescrevendo o livro de algum outro autor. Além disso, os fatos apresentados por uma fonte secundária já sofreram uma seleção prévia, de modo que, ao usá-los, perdemos a oportunidade de fazer nossa própria seleção.

            A tarefa de reescrever o que já é conhecido não encerra atrativos para Bárbara. Não sente estímulo para escrever a menos que esteja aprendendo alguma coisa nova e contando ao leitor algo de novo, no conteúdo ou na forma.

            A arte de escrever – a prova do artista – é resistir à atração de desvios fascinantes e apegar-se ao seu assunto. São necessárias, simplesmente, coragem e confiança para fazer escolhas e, acima de tudo, para deixar certas coisas de lado. O melhor quadro é aquele que mostra as partes da verdade que melhor produzem o efeito do todo.

            Outro princípio, sugerido por Bárbara: não discutir as evidências, as fontes, as teorias, em frente ao leitor. Os processos de raciocínio do autor não cabem numa narrativa. Devemos resolver nossas dúvidas, examinar as provas conflitantes, determinar os motivos atrás das cortinas e discutir nossas fontes nas notas de referências, e não no texto. Entre outras coisas, isso mantém o autor invisível, e quanto menos a sua presença for sentida, maior é a sensação de proximidade que o leitor tem com os acontecimentos.

            Não esqueçamos do aforismo: “ser academicista é acreditar que acúmulo é aprofundamento e que chatice é precisão”.

            Ler, como escrever, é o maior dom com que o homem se dotou, por meio do qual podemos realizar viagens ilimitadas. Ler possui uma sedução interminável. Escrever, pelo contrário, é um trabalho pesado. É preciso sentar-se numa cadeira, pensar e transformar o pensamento em frases legíveis, atraentes, interessantes, que tenham sentido e que façam o leitor prosseguir. É trabalhoso, lento, por vezes penoso, por vezes uma agonia. Significa reorganizar, rever, acrescentar, cortar, reescrever. Mas provoca uma animação, quase um êxtase, um momento no Olimpo! Em suma, é um ato de criação!

            O que o profissional artista tem é uma “visão extra” e uma “visão interior”, acrescida da capacidade de expressá-las.

            Tal como a Bárbara vê, o processo criativo tem três partes. Primeira, a visão extra com a qual o artista percebe uma verdade e a transmite pela sugestão. Segunda, o meio de expressão: a língua para os escritores, a tinta, para os pintores, o barro ou a pedra para os escultores, o som expresso em notas musicais para os compositores. Terceiro plano ou estrutura.

            A estrutura é, principalmente, um problema de seleção, uma tarefa angustiante, porque há sempre mais material do que se pode usar. Não se pode colocar tudo; o resultado seria uma massa informe. O trabalho consiste em encontrar uma linha narrativa sem se afastar dos fatos essenciais, ou sem deixar de fora qualquer fato essencial, e sem deformar o material para que sirva às nossas conveniências.

            Quando se trata de linguagem, nada mais satisfatório do que escrever uma boa frase. É um prazer realizar, quando se pode, uma prosa clara e corrente, simples e ao mesmo tempo cheia de surpresas. Isso não acontece por acaso. Exige habilidade, trabalho árduo, um bom ouvido e prática constante. As metas, como já disse, são a clareza, o interesse e o prazer estético. Sobre a primeira, é importantíssima a arte de tornar o sentido claro!

            A comunicação é, afinal de contas, o objetivo para o qual a linguagem foi inventada. Para ela, há um critério tríplice: a convicção do autor de que tem alguma coisa a dizer; que vale a pena ser dita, e que pode dizê-la melhor do que ninguém. Dizer não para poucos, mas para muitos. Juntamente com a compulsão de escrever, deve estar o desejo de ser lido. Nenhuma página se torna viva, a menos que o escritor veja, do outro lado de sua mesa, o leitor, e busque, constantemente, a palavra ou a frase que levará a ele a imagem desejada e despertará a emoção que deseja criar nele. Sem a consciência de um leitor vivo, o que o autor escreve morrerá em sua página.

            De todos os instrumentos, a crença na grandeza de seu tema é o mais estimulante. É assim que o autor deve considerar seu assunto. Isso faz com que nenhum leitor possa deixar seu texto de lado. O entusiasmo, que não é exatamente a mesma coisa, tem um efeito não menos estimulante.

            Por que escrever? Para cada escritor há uma razão diferente(2). Busque a sua.

Fernando Nogueira da Costa, Professor Associado do IE-UNICAMP, 49. Coordenador da Área de Economia da FAPESP. Autor dos livros “Economia em 10 Lições” e “Economia Monetária e Financeira: Uma Abordagem Pluralista”. Email:fercos@eco.unicamp.br.

1 - TUCHMAN, Bárbara W.. A Prática da História. Rio de Janeiro, José Olympio, 1991 (original de 1989).

2 - BRITO, José Domingos de (org.). Por que escrevo? São Paulo, Escrituras, 1999.

HISTÓRIA CONCEITO DA ENCICLOPÉDIA NOVO CONHECER





HISTÓRIA

(texto da Enciclopédia Novo Conhecer)


            Pode-se imaginar que o homem quando aprendeu a se comunicar e passou de curtas frases guturais (gemidos) à construção de uma linguagem, logo começou a contar estórias. Podemos visualizar, ao redor de uma ancestral fogueira, homens semivestidos a relatar uns aos outros as experiências das últimas caçadas. As narrativas mais impressionantes, por seus aspectos heróicos ou trágicos, permaneciam vivas à força de serem repetidas. Sua transmissão de pais para filhos criava e reforçava os sentimentos de solidariedade entre o grupo. Embora misturada à lenda, estava se iniciando a História.

            Hoje ela significa a reconstrução da vida das sociedades, em suas formas organizativas e culturais, o que exige métodos especiais de trabalho e pesquisa. As sociedades vivem sua própria História. Aos historiadores compete reconstruí-las em sua forma original, para submetê-la a uma análise cujo objetivo último é compreender o homem, em sua ação e em seu relacionamento dentro da sociedade.


A pré-história da História

            Os relatos orais acompanharam as gerações desde tempos imemoriais até a antiga Grécia. E os séculos transformaram os personagens históricos em deuses e heróis, até que, durante o esplendor de Atenas (século V a.C.), Heródoto resolveu fixar no papel os fatos reais das guerras entre gregos e persas ocorridas alguns anos antes (500-479 a.C.) Para isso viajou pelos locais em que se desenvolvera o conflito, pesquisando documentos e ouvindo pessoas. O resultado foi um livro a que chamou “História”, onde apresentou uma nova forma para o estudo de documentos. Embora revelasse certo exagero e alguma imprecisão, sua obra permaneceu até nossos dias como um texto básico para o conhecimento daquele período. Pelo seu trabalho, a posteridade o consagrou como o “Pai da História’.

            Quase na mesma época, Atenas produziu um segundo historiador, Tucídides (471? – 400? A.C.), que participou da luta entre Atenas e Esparta e escreveu depois a “História da Guerra do Peloponeso”. Nela, desenvolveu uma análise crítica que lhe valeu ser considerado como um dos maiores historiadores da antiguidade. Heródoto de Halicarnasso e Tucídides lançaram as bases metodológicas da História, iniciando o seu desenvolvimento como disciplina específica.


A História da pré-história

            Durante um longo tempo, as culturas antigas que não conheceram a escrita permaneceram inacessíveis aos historiadores. Supunha-se a existência dessas civilizações unicamente pelos vestígios encontrados de armas e utensílios. Entretanto, o progresso das pesquisas logrou estabelecer algumas conclusões sobre esse período, que ficou conhecido como a pré-história. Conforme o grau de aperfeiçoamento técnico dos restos de objetos encontrados, a pré-história foi dividida em quatro idades representativas dos estágios de desenvolvimento dessas civilizações.

            Os tempos mais remotos foram chamados de Idade da Pedra Lascada (ou Paleolítico), quando armas e utensílios eram feitos com lascas de pedras trabalhadas rusticamente. Na fase seguinte (Pedra Polida ou Neolítico), os objetos já são mais elaborados. O polimento da pedra indica um progresso técnico, correspondente a uma organização social mais complexa. Depois, o homem apropriou-se dos metais, aperfeiçoando a fundição do cobre e do estanho, cuja liga deu nome ao período (Idade de Bronze). O bronze foi, inclusive, usado como meio de troca (moeda). A última fase da pré-história foi denominada Idade do Ferro. Suas formas de organização social são complexas e nela surge a escrita. Com os primeiros documentos escritos saímos da pré-história. Naturalmente, essa sucessão de fases é mais exata para algumas regiões que para outras. E a cronologia varia muito. Os Egípcios inventaram a escrita antes mesmo de usar o bronze e vários povos tribais dos nossos dias não chegaram sequer a desenvolver uma cultura material do tipo neolítico. Não se trata, portanto, de fases necessárias, mas de etapas que ocorreram na maior parte do Velho Mundo.


A História dividida

            Para facilidade de estudo, a História foi classificada em períodos ou idades, obedecendo a uma seqüência cronológica. Segundo tal orientação, a História divide-se em Antiga, Média, Moderna e Contemporânea. Dentro deste critério, adotado para a História Ocidental, cada uma das idades revela um sistema social padrão, sujeito a constantes transformações.

            Isso quer dizer que as divisões da História não são arbitrárias. Quer dizer, também, que as civilizações não desmoronam, nem se acabam repentinamente. Estão, isto sim, sempre se modificando. Cada fato histórico é conseqüência de fatos anteriores e será causa de novos fatos que virão a seguir. Embora a divisão da História nos mostre sistemas sociais diferentes, a História é toda ela um só conjunto de fatos inter-relacionados.


Das pirâmides à queda de Roma

            A Idade Antiga começa com a própria História. Nela incluem-se os povos de origens mais remotas, como os sumérios, egeus, egípcios, assírios, caldeus e persas. Entretanto, seu apogeu é a Antiguidade Clássica, que abrange as fases hegemônicas da Grécia e de Roma.

            Iniciando-se cerca de 3.500 a.C., a Antiguidade chegou ao seu fastígio na Atenas do século V a.C.. Nele viveram Péricles, Sócrates e Platão. No século seguinte Alexandre Magno e Aristóteles. Com a decadência grega, a supremacia se deslocou para Roma, onde atingiu seu esplendor no século anterior a Cristo, época de César e Augusto.

            Na era cristã, Roma sofreu um lento ocaso, com a degeneração de seus costumes e instituições, enquanto se fortaleciam as novas doutrinas espirituais. Convencionou-se marcar a passagem para a Idade Média no ano de 476, em que o Império Romano do Ocidente se desmembrou com a invasão de bárbaros, de origem germânica.


O tempo dos cavaleiros

            Nossa visão de Idade Média é toda ela povoada de castelos e de cavaleiros andantes. É a época dos barões, dos senhores feudais, das Cruzadas. Essa organização feudal se estruturou ao fim das investidas dos bárbaros, após a unificação e cristianização da Europa, realizada por Carlos Magno (coroado em 800). Cristalizou-se, a partir de então, um grande fervor religioso, cuja expressão máxima está consubstanciada na filosofia de Santo Agostinho e de Santo Tomás de Aquino.

            A grande fase das cavalarias ocorre por ocasião das Cruzadas, que tinham como meta libertar Jerusalém da dominação turca, sem ignorar objetivos comerciais. Mas a estrutura econômica medieval baseava-se principalmente na agricultura e nas relações entre os servos e senhores feudais. O aparecimento e a intensificação do comércio urbano levaram ao enfraquecimento da organização agrária e à decadência do feudo. Duas datas são apontadas como críticas: 1453, quando os turcos tomam Constantinopla (com a conseqüente migração dos sábios bizantinos para a Europa), e 1492, com a descoberta da América.


Depois, os Reis poderosos

            De modo geral, quando pensamos em uma corte luxuosa, de onde um rei dirige despoticamente seu país, estamos pensando na História Moderna. Ela se caracteriza pela centralização do Estado nas mãos de soberanos poderosos, ficando a maioria das nações sob o regime da monarquia absoluta. Iniciado com o Renascimento e as Grandes Navegações (que seriam marcos de transição), o absolutismo teve seu apogeu na Inglaterra com Henrique VIII e Elisabeth I, e na França dos luíses.

            Mas o evoluir do conhecimento humano e o enriquecimento da burguesia começaram a minar o absolutismo. Consolidam-se os anseios democráticos, com a divisa de que todos os homens são iguais, e eclode a Revolução Francesa (1789), que derruba do trono Luís XVI. Assim termina praticamente o absolutismo, e com ele a Idade Moderna, iniciando-se a Idade Contemporânea.


A História vai à lua

            Embora tenha apenas duzentos anos a História Contemporânea está repleta de fatos importantíssimos. No século XIX houve Napoleão, e depois dele o surto de nacionalismo que inspirou a independência de quase todos os países da América Latina e Europa.

            No século XX ocorreram duas guerras mundiais (1914-1918 e 1939-1945) e o aparecimento do mundo socialista. Além disso, um sopro de liberdade percorreu os países africanos e outras regiões que eram colônias do Ocidente.

            Durante todo o período desenvolveu-se a Revolução Industrial, que a partir da Inglaterra se espalhou pelo mundo, atingindo hoje os países menos desenvolvidos.

            Em nossos dias, a exploração das possibilidades da energia atômica, o advento dos foguetes espaciais e mudanças sociais profundas com o avanço dos computadores e da internet são alguns dos fatos marcantes que vivemos. E o desenvolvimento tecnológico tem provocado ora euforia, ora sérias apreensões.


O Ofício de Historiador

            Atualmente, a tarefa do historiador é submeter os fatos Históricos a uma análise, a mais ampla e objetiva possível. Seu trabalho desenvolve-se a partir da escolha e pesquisa dos materiais necessários ao estudo do assunto.

            A natureza desse material é a mais diversa. As fontes escritas são documentos políticos, diários, anais, inscrições fúnebres, obras literárias, etc. Como exemplo teríamos os “Comentários” de Julio César sobre a guerra da Gália, as crônicas do florentino Dino Compagni na Idade Média, ou ainda os hieróglifos egípcios deixados na pedra de Roseta e decifrados por Champollion.

            As fontes não escritas compõem-se dos remanescentes materiais das culturas, como as pinturas do homem das cavernas, ruínas de cidades e templos, objetos de uso doméstico, jóias, moedas, armas, cidades e templos, objetos de uso domésticos, jóias, moedas, armas, e o que mais tenha desafiado a ação do tempo.

            A variedade enorme desses documentos faz com que o historiador sozinho nem sempre possa interpretá-los. Para uma visão correta, existem outras ciências auxiliares, às quais deve recorrer a História.

            Se o historiador precisa decifrar uma inscrição incisa em uma pedra, tumba ou edifício publico, apela para a Epigrafia. Se seus escritos estiverem em papiros ou tabuinhas de cera e cerâmica, ele se volta para a Papirologia ou a Paleografia.

            Para os documentos oficiais que foram conservados, existe a Diplomática. Brasões de família antigas, moedas e medalhas, selos e sinetes, são objeto, respectivamente, do estudo da Heráldica, da Numismática e da Esfragística.

            A descoberta e análise de todas essas fontes deve-se a uma ciência mais geral, a Arqueologia, cujo trabalho valioso trouxe à tona culturas e civilizações que permaneciam desconhecidas.

            Após haver coletado os subsídios de que necessita, o historiador inicia a segunda parte de seu trabalho, quando submete suas fontes a uma análise crítica e começa a formar um quadro de interpretação dos dados a seu dispor.

            Até esse momento, o historiador procurou ser o mais objetivo possível. Mas agora não poderá mais manter tal isenção de ânimo. Por mais que o historiador procure visualizar a História com os olhos puros do cientista, sua análise final resultará filtrada por sua própria realidade. Sendo impossível alcançar a total objetividade, ele interpreta os fatos históricos sob essa consciência, imprimindo à História uma nova orientação, que extrai do passado as lições para o futuro.



           

PARA QUE ESTUDAR HISTÓRIA?






            Qual a importância da História na vida das pessoas? Pergunta capciosa, difícil de responder.

            Imagine que você está querendo namorar alguém e nada você sabe sobre ela. Não sabe onde mora, não sabe quem são seus pais, seus costumes, suas manias, você só sabe que está apaixonado por alguém.

            Você resolve chegar nessa pessoa e declarar seu amor desde a primeira vez que a avistou. Fala que a ama muito, que irá fazê-la feliz para sempre, que quer casar com ela, etc... etc... etc...

            Ela vira para você, e com muito jeito, lhe diz:

            - Olha, você é uma pessoa bonita, parece legal, mas minha opção sexual é outra, não tenho nada a ver com você, desculpe-me, mas não vai dar, procure outra pessoa.

            Uau, que pratada, hein?


            Bem, saber História, nada mais é do que pesquisar, analisar e contextualizar uma situação ou pessoa, em outras palavras se informar.

            É claro que a opção sexual é algo intimo de cada um, mas se você tivesse informado a respeito poderia se colocar diante da sua opção também e ver se topava ou não a parada.

            Para uma pessoa se informar existe variadas maneiras, por documentos, jornais, internet, bate-papo, entre outros.

            O historiador nada mais é do que um cara que busca informações no tempo e no espaço para descobrir aquilo que ele se propõe a conhecer, principalmente para escrever a respeito de tal assunto.

            Essas informações que a História nos fornece, pode tirar a gente de muitas enrascadas, pois você não vai cometer um erro que você já sabe que outro cometeu.

            Por exemplo: você não vai tirar notas baixa por que seu irmão levou uma bronca dos seus pais, logo você vai estudar a partir da atitude do seu irmão, você não vai precisar levar a bronca.


            Essa tal de história começou lá na Grécia com um tal de Heródoto, ele morava numa cidade chamada, vejam só, Halicarnasso! Ele devia ser muito curioso e queria saber tudo sobre uma guerra que aconteceu entre os persas e os gregos. Ele conversou com muita gente, procurou saber sobre mapas, relatos de soldados, procurou conhecer as armas utilizadas e escreveu um livro, adivinha o nome? É esse mesmo História.

            Olha só como ele começa seu livro:

“Ao escrever a sua História, Heródoto de Halicarnasso teve em mira evitar que os vestígios das ações praticadas pelos homens se apagassem com o tempo e que as grandes e maravilhosas explorações dos Gregos, assim como as dos bárbaros, permanecessem ignoradas; desejava ainda, sobretudo, expor os motivos que os levaram a fazer guerra uns aos outros”.


            Quem é curioso gosta de História, gosta de saber das coisas e sobre as coisas, pesquisa sobre tudo, e provavelmente gosta de ler.

            De certa maneira tudo e todos tem sua História. Algumas pessoas ou coisas mexem com mais vidas, outras menos. Sabendo-se o que aconteceu com uma determinada pessoa podemos escolher um caminho diferente da dela, ou não!


            A História é uma ciência, o que quer dizer isso? Que ela tem um objeto de estudo. Qual o objeto de estudo da História?

            Essa pode ser uma pergunta daquelas que tem múltiplas respostas:

  • Os seres humanos em relação ao tempo;
  • As sociedades humanas de diversas épocas;
  • A influência temporal na vida dos seres humanos, dos grupos humanos e da vivência do homem e das mulheres no Planeta Terra.

Clio, a musa da História



            O que podemos notar é que a ciência histórica está intimamente ligada a existência dos seres humanos.

            Para a História ser uma Ciência ela precisa também ter um método de estudo, ou seja, algumas regras, elementos e procedimentos básicos para que se possa pesquisar sobre a vida dos seres humanos e determinada época, e, para complicar não existe apenas uma metodologia, mas varias.

            E, por último, para ser uma Ciência a História que tem como objeto os seres humanos em relação ao tempo e a pesquisa histórica como método tem que ter comprovação, ou seja, através das diferentes tecnologias há necessidade que certas afirmações (teses ou hipóteses) sejam comprovadas como verdadeiras.


            Vamos exemplificar.

            Imagine que um Historiador (que é a pessoa, o profissional que estuda a História e aplica os seus métodos) faça a seguinte afirmação:


Tese ou hipótese: “Em Porto Feliz não houve a escravização do povo negro”.


Ante-tese – antítese – através do método de pesquisa histórica o Historiador vai procurar documentos antigos (como jornais, certidões de nascimentos, cartas, recibos de compra e venda) e encontra esta prova:


“Declaro que sou católico […] Declaro que sou natural desta cidade, filho de Domingos e Joana, já falecidos. Declaro que sou casado com Rosa de Arruda de cujo matrimônio não tivemos filhos algum, e não tendo por isso herdeiros necessários, instituo por minha única herdeira a dita minha mulher. Declaro que devo a minha comadre Cândida, escrava de Joaquim de Toledo, a quantia de 400 mil réis. Declaro que deixo liberto o meu escravo João com a condição dele pagar a dita minha comadre os 400 mil réis que lhe devo. Depois de efetuado o dito pagamento lhe será entregue a

carta de liberdade. Declaro que deixo à Irmandade de São Benedito a quantia de 16 mil réis, e igual quantia à Irmandade Nossa Senhora da Boa Morte; e a mesma quantia para a Igreja de Nossa Senhora Mãe dos Homens. Declaro que quero que se me diga uma capela de missas por minha alma. Declaro que deixo a minha ferramenta de carpinteiro para o meu escravo João. Rogo queiram ser meus testamenteiros em primeiro lugar a minha mulher, em segundo o senhor Evaristo Rodrigues Leite, e em terceiro o senhor José Cardoso; e por essa forma dou por concluído este meu testamento que vai escrito e a meu rogo assinado por Maximiano José da Mota por eu não saber escrever. Porto Feliz, [19/04/1860].”

(Museu Republicano Convenção de Itu (MRCI). Pasta 343.)




            Este documento que é um testamento de um carpinteiro demonstra que a tese está errada, ou seja, que existiu escravismo e escravidão negra em Porto Feliz.

            A partir desta pesquisa o Historiador tem a seguinte conclusão ou síntese:

            Síntese – Em Porto Feliz existiu escravidão negra.


            Desta forma podemos dizer que a História é uma Ciência, pois possui OBJETO, MÉTODO E CONFIRMAÇÃO.



            Para terminar vou deixar aqui uma dica do por quê estudar História, basta você substituir a fala do ator (Robin Willians), onde ele diz poemas, e acrescentar História e você saberá que como a poesia por que a História é importante para a Humanidade.


“NÃO LEMOS E ESCREVEMOS POEMAS

PORQUE É BONITO

LEMOS E ESCREVEMOS POEMAS

PORQUE PERTENCEMOS A RAÇA HUMANA

E A RAÇA HUMANA ESTÁ CHEIA DE PAIXÃO,

POESIA, AMOR, LITERATURA, CARINHO

E A VIDA EXISTE PARA ISSO”

(extraído do filme Sociedade dos Poetas Mortos)

Biografia - História da minha vida

 
Este se transforma neste



Cláudio Maffei

 

Professor de História, licenciado pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras, hoje Uniso, em 1988, já dava aula em 1987, efetivado no Estado de São Paulo em 1994, e na Prefeitura Municipal de Sorocaba em 1996.

Desde criança tinha uma inclinação para as questões voltadas para a natureza, talvez devido a seu pai Octávio de Michetti Maffei, ser criador de pássaros e sua mãe Maria Jonadyr Moreau Maffei, ser uma adoradora de plantas e vasos ornamentais. Nasceu e viveu grande parte da sua vida na Rua Antônio Magnatti, rua que desemboca no Parque das Monções, onde Claudio Maffei vivia na Gruta como fosse seu quintal. No quarto ano, na escola Coronel Esmédio, apresentou para seu professor, Sr. Nei Potel, uma redação que dava sugestões para acabar com a poluição do Rio Tiete, isso nos idos de 1976. Seu pai Octávio vivia brigando com o mesmo porque o pequeno Cláudio, sempre andava colocando placas no Parque das Monções pedindo que os turistas e visitantes não arrancassem flores.

Já nesse período começou a escrever algumas poesias como esta:

 

IRRACIONAL

 

O homem sim é irracional

Mata o bicho

E depois o joga no lixo

Porque é apenas um animal

 

A onça mata para comer

Nunca para jogar

Nem para a caça praticar

Assim tende a viver

 

O homem sem coração

Mata o animal

Até em uma desmatação

 

O homem não pode morrer

Mas também não é preciso

Matar tanto para viver.

 

Quando estava na 8.a série, em 1980, começou a colecionar em fascículos a enciclopédia Novo Conhecer, local onde lia principalmente os assuntos relativos aos fenômenos naturais e químicos, a leitura diária dos fascículos dessa enciclopédia deu uma base sólida nos seus conhecimentos posteriores. Também é desta época um de seus poemas:

 

 

A ÁGUA, AR E SOL

 

Líquido da vida

Ciclo sem igual

Tudo precisa dela

E é um mineral

 

O ar que respiramos

É um gás vital

Sem ele não existe

O animal nem o vegetal

 

O calor da vida

Luz e amor

Que esta estrela

Tende a nos impor

 

Quando entrou na faculdade em 1986, conheceu um movimento ecológico coordenado pelo jovem Gabriel Bittencourt denominado NEMI, Núcleo Ecológico Morro de Ipanema e logo se engajou na luta contra a instalação de ARAMAR (Centro de Pesquisas Nucleares da Marinha) em Iperó, sendo um dos mais aguerridos militantes.

Na década de 90 militou e foi presidente de um grupo de defesa dos Direitos Humanos chamado Solidariedade Popular, sendo seu primeiro e único presidente. Em 1996 foi eleito vereador com expressiva votação, sendo o primeiro vereador eleito pelo Partido dos Trabalhadores na cidade de Porto Feliz, e apresentou vários projetos de lei sobre meio-ambiente, citemos algum deles:

Projeto de lei que dispões sobre a Instituição no Município de Porto Feliz da Semana das Águas e dá outras providencias;

Projeto de lei que autoriza o Poder Executivo a Instituir o Programa “Adote uma Praça” e dá outras providências;

E um Projeto de Lei que criava a Lei Municipal do Meio Ambiente – Dispões sobre a política de proteção, conservação e recuperação do meio ambiente e dá outras providencias, que infelizmente foi arquivada pelos vereadores.

Em 2004 concorre a eleição e é eleito prefeito de Porto Feliz, reeleito em 2008, sendo um dos prefeitos mais atuantes na elaboração de políticas públicas para o Comitê de Bacias do Sorocaba e Médio Tietê e assumiu a presidência do CERISO, e tem um papel fundamental na criação do Consórcio de Saneamento do Sorocaba e Médio Tietê, CISAB. Além de um grande incentivador dos plantios de árvores no município, tem orgulho de ter construído juntamente com o SAAE a ETE “Chico do Saae”.

JOSÉ SARAMAGO: UMA HOMENAGEM


Biografia (fonte fundação José Saramago)




Filho e neto de camponeses, José Saramago nasceu na aldeia de Azinhaga, província do Ribatejo, no dia 16 de Novembro de 1922, se bem que o registo oficial mencione como data de nascimento o dia 18. Os seus pais emigraram para Lisboa quando ele não havia ainda completado dois anos. A maior parte da sua vida decorreu, portanto, na capital, embora até aos primeiros anos da idade adulta fossem numerosas, e por vezes prolongadas, as suas estadas na aldeia natal.


Fez estudos secundários (liceais e técnicos) que, por dificuldades económicas, não pôde prosseguir. O seu primeiro emprego foi como serralheiro mecânico, tendo exercido depois diversas profissões: desenhador, funcionário da saúde e da previdência social, tradutor, editor, jornalista. Publicou o seu primeiro livro, um romance,  Terra do Pecado, em 1947, tendo estado depois largo tempo sem publicar (até 1966). Trabalhou durante doze anos numa editora, onde exerceu funções de direcção literária e de produção. Colaborou como crítico literário na revista  Seara Nova. Em 1972 e 1973 fez parte da redacção do jornal Diário de Lisboa, onde foi comentador político, tendo também coordenado, durante cerca de um ano, o suplemento cultural daquele vespertino.

Pertenceu à primeira Direção da Associação Portuguesa de Escritores e foi, de 1985 a 1994, presidente da Assembleia Geral da Sociedade Portuguesa de Autores. Entre Abril e Novembro de 1975 foi diretor-adjunto do jornal  Diário de Notícias. A partir de 1976 passou a viver exclusivamente do seu trabalho literário, primeiro como tradutor, depois como autor. Em Fevereiro de 1993 decidiu repartir o seu tempo entre a sua residência habitual em Lisboa e a ilha de Lanzarote, no arquipélago das Canárias (Espanha). É casado com Pilar del Río.






sábado, 19 de janeiro de 2013

BIBLIOTECA PARTICULAR JOSÉ SARAMAGO



Minha Biblioteca: 
Biblioteca José Saramago



            Lembro-me que Cristovam Buarque em sua declaração eleitoral colocou seu maior bem: sua biblioteca.

            Posso dizer-lhes também que um dos maiores bem que possuo é minha biblioteca, devo ter mais de 5.000 livros, depois dos 3.000 parei de contar. Desde que comecei estudar História, comecei a montar minha biblioteca que começou com três livros que ainda lembro-me e dois deles ainda tenho, um sumiu no meio das emprestadas.

            Meus três primeiros livros, que comprei e li-os nas férias de 1986 (neste ano eu já possuía minha enciclopédia Novo Conhecer) foram: As Veias Abertas da América Latina do Eduardo Galeano, A História da Riqueza do Homem do Léo Huberman e Brasil, Nunca Mais! Encabeçado pelo querido Arcebispo Dom Paulo Evaristo Arns.

            É claro que antes deles, no primeiro ano de História, foram imprescindíveis os livros da coleção primeiros passos, O que é História? O que é Sociologia? E o que é Dialética. Depois destes não lembro mais a ordem das compras, mas foram muitos os ataques a sebos e também não me esqueço da delícia que era comprar na livraria Prosa & Verso do grande amigo Rafael. Bons tempos.

            Minha biblioteca atual é muito diversificada, é claro que a maioria dos livros são de História Mundial e do Brasil, porém tenho muitos livros de literatura, tanto brasileira quanto estrangeira, filosofia, e os mais diversos. Tenho mais de dez bíblias, várias obras em Inglês, Espanhol e até em francês. Possuo até livros repetidos, porém de edições diferentes, ter uma primeira edição é algo glorioso. Tenho um livro autografado pessoalmente pelo Jorge Amado, que enviou para mim, ABC de Castro Alves,  e diz o seguinte: “Para Cláudio Maffei, com os votos para sua ???? e sua ficção. O abraço de JAM, Bahia 1995 ou 1997” Eta, letrinha danada!

            Como aprecio muito José Saramago resolvi chamar minha biblioteca de José Saramago.



            Muito bem, agora tire o olho, que sou muito cioso com meus livros e só empresto realmente para quem é de minha confiança, mesmo assim, vivo levando alguma pernada, pois dois dos livros que citei acima (As veias abertas e O que é Historia) foram e não voltaram.

            É isso aí, um dia se a Luiza ou o Luiz Otávio não quiserem ficar com meus livros, após meu passamento (o palavrinha feia), espero que a mesma seja doada para uma boa biblioteca, que pode ser a municipal de Porto Feliz. Tive a chance de visitar a Biblioteca do Florestan Fernandes em São Carlos na UFSCAR é fantástico você ver livros onde o nobre sábio riscava e deixava suas anotações. Só não quero que minha biblioteca acabe indo para a reciclagem. Para terminar deixo um exemplo do que falei neste parágrafo do Eduardo Galeano:


1984

Rio de Janeiro

Desandanças da memória coletiva na América Latina



            O contador público João David dos Santos deu um pulo de alegria quando conseguiu receber seus muitos salários atrasados. Não foi em dinheiro, mas conseguiu receber. Na falta de dinheiro, um centro de investigação em ciências sociais pagou-lhe com uma biblioteca completa, de nove mil livros e mais de cinco mil jornais e folhetos. A biblioteca era dedicada à história contemporânea do Brasil. Continha materiais muito valiosos sobre as ligas camponesas do Nordeste, os governos de Getúlio Vargas e muitos temas.

            Então o contador Santos pôs a biblioteca à venda. Ofereceu-a aos organismos culturais, aos institutos de história, aos diversos ministérios. Nenhum tinha fundos. Tentou as universidades, oficiais e privadas, uma após outra. Não adiantou nada. Numa universidade deixou a biblioteca emprestada, por alguns meses, até que lhe exigiram que começasse a pagar aluguel. Depois tentou os particulares. Ninguém mostrou interesse: a história nacional é enigma ou mentira ou bocejo.

            O infeliz contador Santos sente um grande alívio quando finalmente consegue vender sua biblioteca à Fabrica de Papel Tijuca, que transforma todos esses livros e jornais e folhetos em papel higiênico colorido.


(extraído de Eduardo Galeano, O Século do Vento, 1988)

           

Veja também:

O NOME DA ROSA

O Nome da Rosa de Umberto Eco: Análise da Obra O Nome da Rosa  é um livro de 1980 escrito pelo italiano Umberto Eco. Em 1986 foi lançado o...

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