domingo, 24 de fevereiro de 2013

O LEMA MAIS FAMOSO DA REVOLUÇÃO FRANCESA.




            Liberté, Egalité, Fraternité foi o lema da Revolução Francesa. O slogan sobreviveu à revolução, tornando-se o grito de ativistas em prol da democracia liberal ou constitucional e da derrubada de governos opressores à sua realização. O slogan é citado na Constituição francesa de 1946 e 1958.


            Embora seja impossível apontar um autor, um dia, uma hora, e termos de apontar o seu aparecimento como sendo sobretudo criação coletiva dessa conturbada época, quem na verdade se refere a esta trilogia primeiro parece fora desse contexto revolucionário. Ela pertence ao humanista cristão Étienne de La Boétie, amigo de Montaigne e colaborador de Michel de l´Hôpital, que a escrevera, já por volta de 1550, no seu "Discours de la servitude volontaire" ("Discurso da servidão voluntária").

            Em seguida, encontramos os três princípios nas obras de alguns autores católicos do século XVII com igual propósito, nomeadamente em Antoine Arnauld que propõe, em 1644, uma tradução do "De moribus ecclesiæ catholicæ", de Santo Agostinho no qual se lê que: a Igreja reúne os homens em fraternidade, que os religiosos vivem a igualdade por não terem propriedades, que os fiéis “vivem na caridade, na santidade e na liberdade cristã”.

            Só muito mais tarde, em Maio de 1791, vê-mos-lo num discurso inflamado de René Louis de Girardin, marquês de Vauvray, dirigido aos membros do Clube dos Cordeliers, no qual, pela primeira vez, foi proposta o lema “Liberdade, igualdade, fraternidade” que a partir daí se tornaria a da República Francesa e por "simpatia" ou "incorporação" o da francomaçonaria que a apoiava.

            Liberdade, igualdade, fraternidade ou a morte!



            A sua fidelização. enquanto divisa simbólica, surgirá reforçada logo em 1793 com o hebertista Antoine-François Momoro ordenando aos seus cidadãos, de Paris, a pendurarem nas suas casas, em grandes caracteres, as seguintes palavras: "Unidade, Indivisibilidade da República, Liberdade, Igualdade, Fraternidade, ou a Morte” e que estava dentro do seu espírito ateu e grande divulgador do Culto da Razão.
            Durante a ocupação alemã na França durante a II Guerra Mundial o lema foi substituído na área do governo de Vichy com a frase Travail, famille, patrie (trabalho, família e pátria) para evitar possíveis interpretações subversivas e desordenadas.


Lady Gaga contribui para seu conhecimento de Revolução Francesa:


DOIS ESQUEMAS SOBRE A REVOLUÇÃO FRANCESA

Como era a sociedade francesa anterior a revolução?


Como suas classes sociais estavam divididas?



A sociedade francesa estava dividida em 3 estamentos:


  •   CLERO -  1.º estado
  •   NOBREZA - 2.º estado
  •   POVO - (burguesia, operários e camponeses) - 3.º estado








A Revolução Francesa pode ser, também,
 esquematizada desta maneira:




terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

INTERESSANTE ARTIGO QUE EXPLICA AS DIFERENCIAÇÕES ENTRE OS SERES HUMANOS


Como surgiram as raças que constituem a humanidade?

por Roberto Navarro (Revista Mundo Estranho da Abril)

            Primeiro, é preciso deixar bem claro que a maioria dos cientistas rejeita o termo "raça" para se referir a seres humanos. Afinal, são insignificantes as variações genéticas entre um europeu e um africano, ou entre esse e um asiático. Por isso, só há sentido em falar de uma única raça humana. Mas também é verdade que entre esse mesmo europeu, o africano e o asiático existem diferenças físicas que qualquer um pode enxergar. Essa diversidade apareceu ao longo do tempo, à medida que o homem precisou se adaptar na marra aos diversos ambientes e regiões que foi ocupando no planeta. Ao chegar e se estabelecer num local mais frio e pouco ensolarado, por exemplo, uma pele mais clara ajudava a aproveitar melhor os raros raios solares - importantes, entre outras coisas, para o corpo produzir vitamina D. Dessa forma, toda essa população clareava sua pele de geração em geração, por meio da seleção natural.

            O antropólogo americano Eugene Harris, pesquisador visitante do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP), destaca que o isolamento foi um elemento importante nesse processo de diferenciação. Um grupo que não mantinha contato com outros arranjava soluções próprias para enfrentar os desafios do ambiente em que vivia. Dessa adaptação forçada nas andanças pela Terra, surgiram os três grandes grupos em que o ser humano tradicionalmente é dividido: negroides, caucasianos e mongoloides. Apesar das diferenças físicas, todos eles tiveram os mesmos ancestrais, que, provavelmente, viviam na África há, no mínimo, 150 mil anos. De lá, o homem começou a invadir outras regiões e continentes. Primeiro, o Oriente Médio. Depois, a Ásia, a Europa e a Oceania. Por último, chegou aqui na América, quando a variedade de tipos humanos já era um fato.

  1. Evidências arqueológicas indicam que o Homo sapiens surgiu na África há pelo menos 200 mil anos. Cem mil anos atrás, ele começou a se espalhar pelos outros continentes. O primeiro destino foi o Oriente Médio
  2. Entre 70 mil e 50 mil anos atrás, surgiram duas novas rotas de migração do Homo sapiens: uma população seguiu do Oriente Médio para o restante do continente asiático e a Austrália. O outro grupo rumou em direção à Europa
  3. No nordeste da Ásia começou a viagem que levaria o homem a ocupar a última região do planeta: a América. Estima-se que isso possa ter ocorrido até 30 mil anos atrás, embora os fósseis mais antigos achados no continente americano não ultrapassem 15 mil anos

Herança da migração

As andanças do ser humano deram origem a seus três principais grupos étnicos:

  • negroides - Grupo formado pelas populações que permaneceram no continente africano. A cor da pele, escura, é sua principal característica. Lábios grossos e narinas largas também são traços comuns

  • caucasoides - O nome refere-se à região do Cáucaso, no sul da Rússia, onde as primeiras populações desse grupo teriam vivido. Acabaram desenvolvendo uma pele mais clara porque se espalharam pela Europa, onde a pele escura prejudicava a absorção dos raios do Sol, bem mais raros que na África

  • mongoloides - Surgiram em regiões da Ásia de baixas temperaturas. Isso explicaria características físicas como o nariz mais achatado - adaptação adequada para evitar o congelamento que atinge principalmente as extremidades do corpo. A população humana que se espalhou pelo continente americano seria um subgrupo dos mongoloides

domingo, 17 de fevereiro de 2013

A REVOLUÇÃO BURGUESA NA FRANÇA












A REVOLUÇÃO FRANCESA


1)     A FRANÇA PRÉ-REVOLUCIONÁRIA


            A França nos fins do século XVIII era um país agrário. A introdução de novas técnicas de cultivo e de novos produtos permitiu a melhoria da alimentação, e com isso, o aumento da população. A industrialização incipiente nos grandes centros urbanos, como Paris, já era suficiente para reduzir o preço de alguns produtos, estimulando o consumo.


            O desenvolvimento econômico fortaleceu a burguesia, que passou a aspirar ao poder político e a discutir os privilégios da nobreza. Os camponeses possuidores de terras queriam, por sua vez, libertar-se das obrigações feudais que deviam aos senhores.


            A França tinha nessa época aproximadamente 25 milhões de habitantes, sendo que mais de 20 milhões viviam na zona rural. Essa população formava uma sociedade de estamentos - resquício da Idade Média -, mas já se percebia nela uma divisão de classes. O clero era composto por cerca de 120 mil religiosos, divididos em alto clero, bispos e abades que estavam ao nível da nobreza, e baixo clero, padres e vigários de baixa condição econômica e social; o conjunto do clero constituía o primeiro estado. A nobreza – o segundo estado – era formada de 350 mil membros; a nobreza palaciana vivia das pensões reais, usufruindo os cargos públicos; a nobreza provincial vivia no campo, em situação de penúria econômica. Havia ainda a chamada nobreza de toga, constituída por elementos oriundos da burguesia formada pelos profissionais liberais, que compravam seus cargos políticos e administrativos. O terceiro estado representava o restante da população, cerca de 98%: a alta burguesia composta por banqueiros, financistas e grandes empresários; a média burguesia formada pelos profissionais liberais – médicos, dentistas, professores, advogados, etc.; a pequena burguesia, os artesãos, os lojistas e o povo, os sans–culottes, a camada social heterogênea de artesãos, aprendizes e proletários. As classes populares rurais, que chegavam a 20 milhões, destacando-se os servos ainda em condição feudal (uns quatro milhões) e os camponeses livres e semilivres completavam o terceiro estado.


            Sobre a massa da população, o terceiro estado, pesava o ônus dos impostos e das contribuições para o rei, para o clero e nobreza. As outras duas ordens, as privilegiadas, tinham isenção tributária: não pagavam impostos e usufruíam as vantagens concedidas pela monarquia sobe a forma de pensões e cargos públicos. A principal reivindicação do terceiro estado era a abolição desses privilégios e a instauração da igualdade civil.


            No plano político, a revolução resultou do absolutismo monárquico e das injustiças decorrentes. O rei monopolizava a administração, concedia privilégios, esbanjava com o luxo da corte, controlava os tribunais e condenava à famigerada Bastilha, sem julgamento, através das Lettres de Cachet. Era incapaz de bem dirigir a economia do Estado, constituindo-se num entrave para o desenvolvimento do capitalismo na França.


            A arrecadação de impostos era precária. O Estado não tinha uma máquina administrativa para cobrar os impostos – a cobrança era feita por arrecadadores particulares, que se aproveitavam ao máximo, espoliando o terceiro estado. Como os gastos eram excessivos, o déficit orçamentário se avolumava. Na época da revolução, a dívida externa da França chegava a 5 bilhões de libras, enquanto todo seu meio circulante não passava de 2,5 bilhões. Essa situação foi denunciada pelos filósofos iluministas. Seus livros eram cada vez mais lidos: formavam-se clubes para sua leitura. A burguesia cada vez mais tomava consciência dos seus problemas e dos seus direitos, e procurava conscientizar a massa para obter o seu apoio.


            Existiam todas as condições necessárias para precipitar uma revolução. Faltava apenas o momento oportuno, uma conjuntura favorável.


2)     A REVOLTA ARISTOCRÁTICA


            A indústria na França sofreu séria crise a partir de 1786, quando foi feito um tratado comercial com a Inglaterra, pelo qual os produtos agrícolas franceses tinham plena liberdade na Inglaterra em troca da penetração dos produtos industriais ingleses na França. A incipiente indústria francesa não teve condições de agüentar a concorrência, entrando em crise.


            A grande seca do ano de 1788 diminuiu a produção de alimentos; os preços subiram violentamente e os camponeses começaram a passar fome. Na cidade a miséria não era menor. A situação do tesouro, que já não era favorável, tornou-se ainda pior depois que a França apoiou a Independência dos Estados Unidos, gastando na aventura 2 bilhões de libras.


            O descontentamento era geral. Urgia a necessidade de reformas que saneassem o caos econômico. Luís XVI incumbiu o ministro Turgot de realizar reformas tributárias, mas a oposição dos nobres foi muito grande e ele teve de se demitir.


             O rei então indicou Calonne para o Ministério, que imediatamente convocou uma reunião dos nobres e clérigos: a Assembléia dos Notáveis (1787). O ministro propôs que esses dois estados abdicassem dos seus privilégios tributários, pagando impostos para tirar o Estado da falência financeira. Os nobres recusaram-se a aceitar estas medidas, além de provocarem revoltas de protesto nas províncias em que seu poder era mais forte.


            O novo ministro Necker, com a conivência dos nobres, convenceu o rei a convocar a Assembléia dos Estados Gerais, que não se reunia desde 16     14. O que pretendia é que o terceiro estado pagasse os impostos que o clero e os nobres não queriam pagar. As eleições foram realizadas em abril de 1789, coincidindo com as revoltas geradas pela péssima colheita desse ano. Em Paris, os panfletos dos candidatos atacavam os erros do Antigo Regime e agitavam a massa urbana, os sans-culottes, cerca de 200 mil numa população de 600 mil habitantes.


            O primeiro impasse nas eleições surgiu quanto ao número de representantes de cada estado. Até a última reunião dos Estados Gerais (1614), cada estado tinha 300 deputados. Assim, clero e nobreza juntos teriam 600.


             O terceiro estado desejava um número igual de deputados, alegando que representava a maioria da população.

            Em maio de 1789 os Estados Gerais reuniram-se pela primeira vez no Palácio de Versalhes. Os deputados do terceiro estado foram informados que a votação dos projetos seria feita em separado, pro estado. Isto garantia a vitória do clero e da nobreza, que votariam juntos. O terceiro estado negou-se a aceitar esta condição: ele tinha 578 deputados, a nobreza 270 e o clero 291, ou seja, teria maioria absoluta, desde que a votação fosse individual.  Além disso, podia contar os votos de 90 deputados da nobreza esclarecida e 200 do clero, especialmente do baixo clero.




3)     A REVOLUÇÃO BURGUESA


            Reunindo-se em separado em 17 de junho de 1789, o terceiro estado se considerou Assembléia Nacional. O rei Luís XVI, pretextando uma reforma na sala de reuniões, dispersou a Assembléia. Os deputados do terceiro estado foram então para a sala de Jogo da Péla, onde receberam adesão de parte do clero e de nobres influenciados pelo Iluminismo. O rei não teve alternativa senão aceitar a situação de fato, dando validade à Assembléia Nacional, após uma frustrada tentativa de fechamento da Assembléia, a 23 de junho.


            Os fatos se desenrolaram com rapidez, como se algumas décadas fossem comprimidas em algumas semanas.


            No dia 9 de julho de 1789 deu-se a prloclamação da Assembléia Nacional Constituinte. Os deputados juraram só se dispersar depois de dar uma Constituição à França.


            Luís XVI procurava ganhar tempo, enquanto reunia tropas para conter os movimento revolucionário. Com a demissão do ministro Necker, a   12 de julho a tensão aumentou. A 13 de julho formou-se a milícia de Paris, organização militar-popular. Foram armazenadas armas e prepararam-se barricadas. A
14 de julho o povo tomou a Bastilha, fortaleza onde o rei encarcerava seus inimigos políticos. A explosão revolucionária em Paris alastrou-se por todo o país.


            No campo, a revolução adquiriu maior violência. Os camponeses procurando destruir o jugo feudal, saquearam propriedades da nobreza e invadiram cartórios e queimaram títulos de propriedade feudal. Ao mesmo tempo, generalizaram-se os boatos de que um grande número de bandidos,  aliciados pelos “senhores”, vinham para atacar os camponeses, gerando o famoso grande medo, que pode ser explicado pela enorme tensão coletiva existente.


            Para conter o movimento que se alastrava cada vez mais, os deputados da  Assembléia Constituinte, em reunião do dia 4 até o dia 26 de agosto, aprovaram a abolição dos direitos feudais: as obrigações devidas pelos camponeses ao rei e à Igreja foram suprimidas; as obrigações devidas aos nobres deveriam ser resgatadas monetariamente, em prazo e condições a serem estabelecidos posteriormente.

 

            A 26 de agosto foi aprovada a Declaração dos Diretos do Homem e do Cidadão. De inspiração iluminista, o documento defendia o direito à liberdade, à igualdade perante a lei, à inviolabilidade da propriedade e o direito de resistir à opressão.


            Como o rei se recusou a aprovar essa declaração da Assembléia, a massa parisiense revoltou-se novamente. Foram as jornadas de outubro: o Palácio de Versalhes foi invadido e o rei obrigado a morar em Paris no Palácio das Tulherias.


            Na sessão que votou o direito de veto (poder concedido ao rei de vetar decisões da Assembléia), os aristocratas sentam-se à direita do presidente; os democratas, à esquerda. Tal fato deu origem à separação que chega aos dias de hoje, entre direita e esquerda na política.


            No ano de 1790 foi aprovada a Constituição Civil do Clero, a qual estabelecia que os bens eclesiásticos seriam confiscados para servir de lastro à emissão dos assignats (bônus do Estado) e os padres passariam a ser funcionários civis do Estado. Muitos padres aceitaram a nova lei prestaram juramento de fidelidade à revolução, desobedecendo à orientação do papa, que já se manifestara contra a revolução. Outros, fiéis ao papa, reagiram e foram denomindos refratários. Grande número deles emigraram e deram início às agitações contra-revolucionárias nas províncias.


            Em 1791  ficou pronta a Constituição. O poder executivo caberia ao rei, e o legislativo, à Assembléia, que funcionaria regularmente.  O trono continuaria hereditário e os deputados teriam mandato por dois anos. Só seriam eleitores os que tivessem um mínimo de riqueza, segundo um critério censitário.  O feudalismo foi abolido, suprimindo-se as antigas ordens sociais, e os privilégios, com a proclamação da igualdade civil. Manteve-se a escravidão nas colonias, a administração foi reorganizada e descentralizada. A nacionalização dos bens eclesiásticos e a Constituição Civil do Clero foram confirmadas.


            O rei Luís XVI, que conspirava contra a revolução, mantendo contatos com outros soberanos absolutos da Europa principalmente da Austria,  julgou  que era o momento oportuno para fugir da França e começar do exterior a contra-revolução. Fugiu em julho de 1791, mas foi preso em Varennes, recambiado ao Palácio e mantido sob vigilância.


            O êxito da Revolução na França estimulou movimentos na Holanda, Bélgica e Suíça. Na Itália, Inglaterra, Irlanda, Alemanha e Áustria, simpatizantes organizaram demonstrações de apoio. Os déspotas esclarecidos, alarmados abandonaram   seus programas de reformas, reaproximando-se da aristocracia. Escritores reacionários defendiam a idéia de uma contra-revolução para restaurar a monarquia absoluta na França. Muitos franceses - nobres, clérigos e alta burguesia -  abandonaram o país, esperando obter auxílio das potências européias. Estas, a princípio, mantiveram-se indiferentes, mas quando perceberam que as idéias revolucionárias ameaçavam abalar o absolutismo em toda a Europa, uniram-se para evitar a difusão do movimento. A ameaça de invasão da França aumentou, o que tornou inevitável a radicalização interna da revolução.


            A unidade que havia entre os patriotas contra os aristocratas, no início da revolução, foi aos poucos desaparecendo, dando origem a uma composição político-partidária bastante complexa. Os girondinos – representantes da alta burguesia – procuravam defender as posições conquistadas e evitar a ascensão da massa; os jacobinos – representantes da pequena e média burguesia – constituíam o partido mais radical, ainda mais sobe a liderança de Robespierre, que procurava o apoio dos sans-culottes, a massa numerosa da cidade de Paris: os cordeliers, independentes, buscavam uma posição de centro, oscilando entre os deputados inscritos no clube dos feuillants, mais à direita, e os jacobinos, mais à esquerda. O líder dos cordelier era La Fayette.


            Os girondinos tinham maioria e o apoio do próprio rei, que neles confiava para conter os avanços da revolução. Graças a esse fato, o rei conseguiu maioria na Assembléia para vetar o projeto que deportava os padres refratários e convocava o exércio para fazer frente aos inimigos da revolução, cuja atividade aumentava fora da França.


            Finalmente os inimigos da revolução, representados pelo exército autro-prussiano e o exército dos emigrados, comandados pelo Duque prussiano Brunswick e apoiados secretamente por Luís XVI, invadiram a França.


             Quando a invasão estrangeira começou, radicalizou-se a posição contra os nobres, considerados traidores. A massa Parisiense que ganhava cada vez maior importancia politica, apoiando os jacobinos e liderada por Danton e Marat, atacou os aristocratas nas prisões. Foi o massacre de setembro. Medidas de carater excepcional foram tomadas para conter a invasão; o exercito nacional foi convocado, com apresentação obrigatória de todos os homens válidos.

            A 20 de setembro de 1792 o exercito autro-prussiano foi batido em Valmy. Na mesma noite, em Paris foi proclamada a Republica. O rei foi considerado prisioneiro e suspeito de traição, devendo ser julgado.






4)     A REVOLUÇÃO POPULAR


            Uma nova assembléia foi formada, a Convenção, que deveria preparar nova Constituição. Os girondinos perderam a maioria para os jacobinos, reforçados pelos montanheses, grupo mais radical. Robespierre e Saint-Just lideravam os jacobinos. O julgamento de Luís XVI abalou a opinião pública européia. Os girondinos trataram de defendê-lo. Saint-Just e Robespierre pediam a condenação. O rei acabou guilhotinado em 21 de janeiro de 1793.


            O primeiro ano da República, 1793, foi chamado Ano I, no novo calendário. Uma nova representação tomou posse, eleita por sufrágio universal masculino, o que acentuou seu caráter popular; saíram vitoriosos os jacobinos e a Montanha. Pela nova Constituição, os 750 deputados eleitos escolheriam a mesa dirigente, com funções executivas.


            Europa afora, coligavam-se forças absolutistas: Inglaterra, Holanda e Santo Império. A Convenção se defendeu, organizando uma série de instituições: Comitê de Salvação .Pública, encarregado de controlar o exército; Comitê de Segurança Nacional, para garantir a segurança interna; Tribunal Revolucionário, encarregado de julgar os contra-revolucionários. Os jacobinos controlavam a Convenção e os principais Comitês.


            Começa então o expurgo de adversários. Os girondinos são acusados de partidários do rei e vários vão para a guilhotina. A jovem Charlotte Corday se vinga assassinando o jacobino Marat. Também é guilhotinada. Entramos no período do Terror, que se estenderia de junho de 1793 a julho de 1794.


            A Montanha de Robespierre dirigia essa política. As perseguições se espalharam. Os indulgentes de Danton temiam que a onda os envolvesse. Protestavam e pediam o fim das perseguições. No extremo oposto, os hebertistas, seguidores de Hébert, pregavam mais violência.


            Robespierre tentava manter-se entre os extremistas da esquerda. Como a pressão popular era grande, fazia concessões: os preços foram tabelados; os exploradores, perseguidos; os impostos sobre os ricos, aumentados; pobres, velhos e desamparados, protegidos por leis especiais; a instrução tornou-se obrigatória; bens de nobres e emigrados foram vendidos para cobrir as despesas do Estado.


            As leis sociais provocaram ondas contra-revolucionárias. Sobrevieram medidas drásticas. O Tribunal Revolucionário prendeu mais de 300.000 pessoas e condenou à morte 17.000. Muitos morreram nas prisões esperando julgamento.


            O Terror chegou ao auge e atingiu a própria Convenção. Para se manter no poder, Robespierre precisava eliminar toda oposição. Condenou Danton à morte. O radicalismo dos hebertistas igualmente criava problemas, levando-os também à guilhotina.


            O sucesso militar diminuiu a tensão interna, e a população passou a desejar o afrouxamento da repressão. Os girondinos, que tinham se isolado durante o Terror para salvar suas cabeças, voltaram à carga. Robespierre não tinha mais a massa parisiense para apoiá-lo, pois havia liquidado seus líderes. Em julho de 1794, ou 9 Termidor pelo novo calendário, Robespierre e Saint-Just foram presos e guilhotinados em seguida. A alta burguesia voltava ao poder através dos girondinos.





5)     A CONTRA-REVOLUÇÃO BURGUESA


      O poder da Convenção caiu nas mãos do Pântano, movimento formado por elementos da alta burguesia, de duvidosa moralidade pública e grande oportunismo político. Ligados aos girondinos, instalaram a Reação Termidoriana. Os clubes jacobinos foram fechados. Preparou-se nova Constituição, a do ano III (1795), que estabelecia um executivo com cinco diretores eleitos pelo legislativo, o Diretório. Os deputados comporiam duas câmaras: o Conselho dos S00 e o Conselho dos Anciãos.


      A configuração política da Assembléia mudou: no centro, os girondinos, que tinham deposto Robespierre; à direita, os realistas, que pregavam a volta dos Bourbon ao poder; à esquerda, jacobinos e socialistas utópicos, que reclamavam medidas de caráter social.

 
      Os diretores equilibravam-se em meio a golpes, da esquerda e da direita. Em 1795, os realistas tentaram dar um golpe, abafado por um jovem oficial, Napoleão Bonaparte, presente em Paris por acaso. Como recompensa, ele recebeu dos diretores o comando do exército na Itália.


      Em 1796, estourou a conspiração jacobina do Clube de Atenas. No ano seguinte, foi a vez dos realistas, derrotados novamente, pelo general Augereau, enviado por Napoleão, que acabava de assinar uma paz vantajosa com a Áustria. Em 1798, os jacobinos venceram as eleições. A burguesia queria paz. Queria um governo forte que conduzisse a França à normalidade. Alguns diretores, como Sieyès e Ducos, prepararam o golpe que levaria Napoleão ao poder, em 9 de novembro de 1799 ou 18 Brumário. Napoleão evitaria as tentativas jacobinas de tomar o poder, consolidando o poder da burguesia no contexto da Revolução. Uma revolução cujos ideais não tardariam a repercutir em longínquas terras, inclusive no Brasil.

O PODER ABSOLUTO NA MÃO DA MONARQUIA








Absolutismo Monárquico


Luís XIV - o rei sol

Sistema de governo no qual o poder é concentrado nas mãos do monarca, característico dos regimes da maioria dos Estados europeus entre os séculos XVII e XVIII. Os reis controlam a administração do Estado, formam exércitos permanentes, dominam a padronização monetária e fiscal, procuram estabelecer as fronteiras de seus países e intervêm na economia nacional por meio de políticas mercantilistas e coloniais. Também criam uma organização judiciária nacional, a justiça real, que se sobrepõe ao fragmentado sistema feudal.


A centralização do poder desenvolve-se a partir da crise do feudalismo. Com o crescimento comercial, a burguesia tem interesse em disputar o domínio político com os nobres e apóia a concentração do poder. A Reforma Protestante do século XVI também colabora para o fortalecimento da autoridade monárquica, pois enfraquece o poder papal e coloca as igrejas nacionais sob o controle do soberano. Com a evolução das leis, com base no estudo do direito romano, surgem teorias que justificam o absolutismo, como as de Nicolau Maquiavel (1469-1527), Jean Bodin (1530-1595), Jacques Bossuet (1627-1704) e Thomas Hobbes (1588-1679).


O Estado absolutista típico é a França de Luís XIV (1638-1715). Conhecido como o Rei Sol, a ele é atribuída a frase que se torna o emblema do poder absoluto: "O Estado sou eu". Luís XIV atrai a nobreza para o Palácio de Versalhes, perto de Paris, onde vive em clima de luxo inédito na história do Ocidente. Na Inglaterra, no início do século XVI, Henrique VIII, segundo rei da dinastia Tudor, consegue impor sua autoridade aos nobres com o apoio da burguesia e assume também o poder religioso. O processo de centralização completa-se no reinado de sua filha Elizabeth I. No século XVIII surge o despotismo esclarecido, uma nova maneira de justificar o fortalecimento do poder real, apoiada pelos filósofos iluministas.


O processo de extinção do absolutismo na Europa começa na Inglaterra com a Revolução Gloriosa (1688), que limita a autoridade real com a Declaração de Direitos (Constituição), assinalando a ascensão da burguesia ao controle do Estado. Na França, o absolutismo termina com a Revolução Francesa (1789). Nos outros países europeus, ele vai sendo derrotado com as Revoluções Liberais do século XIX.

A CIDADANIA BURGUESA






CIDADANIA





O sentido moderno de cidadão nasce nos primeiros dias de outubro de 1774, na França, em discurso de Beaumarchais [1] (1732 –1799). A acepção atual de cidadania é, portanto, posterior ao século XVIII.



DEFINIÇÃO:

    Em sentido etimológico, cidadania define a condição daqueles que residem na cidade. Ao mesmo tempo, o termo se refere à condição de um indivíduo como membro de um Estado, como portado de direitos e obrigações. A associação entre esses dois significados deve-se a uma transformação histórica de grande alcance, fundamental ao mundo moderno: a formação dos Estados centralizados, impondo jurisdição uniforme sobre um território não limitado aos antigos burgos ou cidades medievais.

    O termo cidadão tornou-se sinônimo de homem livre, portador de direitos e obrigações a título individual, assegurados em lei. A associação não é espúria, pois evidentemente é nas cidades que originalmente se formam as forças sociais mais diretamente interessadas na individualização e na codificação uniforme desses direitos: a burguesia e a moderna economia capitalista.



    Em seus primórdios, a constituição do Estado moderno e da economia comercial capitalista representam uma grande força libertária, em primeiro lugar, pela dilatação dos horizontes, pela emancipação dos indivíduos ante o localismo, ante as convenções medievais que impediam ou dificultavam a escolha de uma ocupação diferente daquela transmitida como herança familiar; libertária, enfim, ante as tradições e crenças que se diluíam com a maior mobilidade geográfica e social. Mas libertária, sobretudo, pela imposição de uma jurisdição uniforme, quebrando o arbítrio dos senhores feudais e reconhecendo aos habitantes do território, independentemente de sua ocupação ou condição sócio-econômica, os mesmos direitos e obrigações.



    A cidadania tem um aspecto sociológico e um aspecto político. Nesse último sentido ela expressa aquela igualdade perante a lei – a égalité da Revolução Francesa – conquistada pelas grandes revoluções (inglesa, francesa e norte-americana), e posteriormente reconhecida em todo o mundo.



UM DIREITO DE BURGUÊS.

    É indiscutível que a cidadania é, na origem, um direito burguês, no sentido de que as novas relações sociais e políticas a que ela se refere interessavam de maneira mais real e direta à nova classe comercial e industrial das cidades. Ao mesmo tempo, sua reivindicação – por exemplo, na filosofia de Locke – como soma de direitos fundamentais do indivíduo, qualquer que fosse sua posição social ou ocupação (direitos anteriores à própria sociedade na ficção do ‘contrato social’), tornava-os logicamente independentes da estrutura social, isto é, neutros quanto aos seus beneficiários presentes e potenciais. É essa qualidade da teoria dos direitos naturais – o gato de se colocar como um padrão ou critério externo à sociedade existente, e a partir do qual ela deve ser julgada – que lhe confere caráter especificamente revolucionário.




(Retirado da Enciclopéia Mirador – 1993)




[1] Pierre-Augustin Caron de Beaumarchais (Paris, 24 de janeiro de 1732 – Paris, 18 de maio de 1799) foi um autor de teatro francês. Começou por exercer o ofício de relojoeiro, foi mestre de música das filhas de Luís XV, sendo seu secretário, diplomata de bastidores e agente secreto. Na infância, estudou violão, flauta e harpa.
Beaumarchais é o criador do personagem Fígaro, presente na trilogia constituída pelas comédias O Barbeiro de Sevilha ou A Precaução Inútil (no original em francês, Le barbier de Séville, 1775), As Bodas de Fígaro (no original, em francês, La Folle journée, ou le Mariage de Figaro, 1784), e pelo drama A mãe culpada (no original francês, L'Autre Tartuffe, ou la Mère coupable, 1789-1790). Todas as três peças foram transformadas em óperas - por Paisiello, Rossini (Il barbiere di Siviglia), Mozart (Le nozze di Figaro) e Milhaud (La Mère coupable).

APRESENTAMOS OS PAÍSES QUE COLONIZARAM A AMÉRICA







A CONQUISTA DA AMÉRICA


O processo de conquista da América pelos europeus teve conseqüências distintas para a Europa e para a América.




Os Estados metropolitanos europeus, através da exploração de suas colônias, aceleraram o processo de acumulação primitiva de capitais nas mãos de suas respectivas burguesias, o que propiciou a alguns países, como a Inglaterra e a França, o surgimento da etapa industrial do desenvolvimento capitalista no século XVIII.




As colônias, com exceção dos EUA e Canadá, tiveram seu desenvolvimento histórico marcado pela herança do pacto colonial: sua vida econômica foi montada para enriquecer a metrópole; por isso, toda a estrutura político-administrati­va era dominada pelas metrópoles. Havia uma profunda desigualdade na distribuição da rique­za: um pequeno grupo de ricos privilegiados se opunha a uma massa de trabalhadores, explora­dos através da escravidão negra e do trabalho compulsório indígena.








O período da conquista espanhola iniciou-­se em 1519, quando Hernan Cortez conquistou o império asteca do México. A conquista continuou até 1531-1533 com a dominação do império inca. no Peru, por Francisco Bizarro e Diego Almagro.





Conquistado o território, as autoridades espanholas passaram a organizar a exploração das riquezas. De início, a Coroa autorizava particulares a explorar uma determinada região. Esse sistema era conhecido como Adelantados. Com o passar do tempo, a metrópole foi aumentando sua autoridade direta sobre a América.




A América espanhola foi dividida em quatro vice-reinos e várias capitanias: o vice-reino da Nova Espanha, formado pelo oeste dos atuais Estados Unidos, pelo México e por parte da América Central; o vice-reinado de Nova Granada, formado pela Colômbia, Equador e Venezuela; o vice-reinado do Peru, formado pelo Peru e por grande parte da Bolívia; e o vice-reinado do Rio da Prata, formado pela Argentina, Uruguai e parte da Bolívia e do Paraguai; as capitanias mais importantes foram a Guatemala. a Flórida, Cuba e o Chile, cujo regime administrativo as mantinha ligadas aos vice-reinos.




A Coroa pretendia ter o domínio das regiões onde havia metais preciosos e impor o monopólio comercial sobre as colônias. Assim, a empresa colonial espanhola se baseou nas minas de ouro e prata. As regiões produtoras desses metais eram os eixos principais de colonização, enquanto as regiões vizinhas a estas eram fornecedoras de alimentos, tecidos e animais de tração. Assim, o Chile e a Argentina eram dependentes das regiões mineradoras do Peru e da Bolívia.


Havia também a agricultura e a pecuária voltadas para o mercado externo. Na produção agrícola predominavam os gêneros tropicais, como o açúcar, o tabaco e o cacau; a região platina destinou-se à criação de animais de transporte e para o aproveitamento do charque e do couro.




A exploração do trabalho indígena deu-se através da mita e da encomienda. A mita, costume incaico, era o aproveitamento do índio nas atividades mineradoras, quatro meses por ano; era um trabalho realizado em condições precárias e tinha características de trabalho forçado. A encomienda era o trabalho, geralmente na agricultura, realizado pelos indígenas sem remuneração; o encomendero recebia da Coroa o direito de impor esse trabalho.




Socialmente, havia dois grupos: os brancos privilegiados - chapetones (brancos nascidos na Espanha, que realizavam funções administrativas, militares etc. ) e criollos (brancos nascidos na América, donos das propriedades rurais e das minas) ­e os índios, negros e mestiços, que trabalhavam para enriquecer seus senhores.






Parte do clero católico se opunha à exploração do indígena, destacando-se os frades Bartolomé de Las Casas e Antonio Montesinos. Entretanto, as leis de proteção ao nativo sempre foram desrespeitadas. Os jesuítas orientavam seu trabalho para a formação de "reduções", onde viviam milhares de indígenas, que eram alfabetizados e catequizados em sua própria língua, e se dedicavam à agricultura, à pecuária e ao artesanato. Com relação à escravidão do negro, a Igreja pouco se manifestou.




A "INVENÇÃO" DO BRASIL




A expansão portuguesa se fazia em direção às Índias. No ano de 1498, o navegante Vasco da Gama chegou à cidade indiana de Calicut. A volta de Vasco da Gama a Lisboa comprovou a alta lucratividade das viagens dos portugueses. As especiarias renderam mais de 6.000%.




O rei português, D. Manuel, o Venturoso, ordenou a preparação de uma segunda expedição, com 13 navios e 1.200 homens. A esquadra, sob o comando do fidalgo Pedro Alvares Cabral, era tida como uma das mais importantes na empresa marítima portuguesa.






A grande armada de Cabral partiu de Lisboa e no litoral africano desviou-se da rota de Vasco da Gama. No dia 21 de abril de 1500, os portugueses chegaram ao litoral atlântico da América do Sul. Aportaram numa baía, a que chamaram Porto Seguro. A região descoberta foi batizada com o nome de Ilha de Santa Cruz.




Riquezas e lucros era o que Portugal queria nas novas terras que acabava de tomar. Essa intenção ficou clara no relato que Pero Vaz de Carminha fez em sua carta ao rei de Portugal:


"Nela, até agora, não pudemos saber que haja ouro, nem prata, nem coisa alguma de me­tal ou ferro (... ) Porém a terra em si é de muito bons ares, assim frios e temperados, como os de Entre-Douro-e-Minho, porque neste tempo de agora achávamos como os de lá.

            Águas são muitos; infindas. E em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem ".




Cabral voltou com sua esquadra ao caminho anterior, isto é, em direção às Índias. Estava consolidado e assegurado o domínio português sobre essa nova rota e sobre as Índias. Os lucros proporcionados pela viagem de Cabral superaram em mais de duas vezes as despesas e investimentos iniciais.





A PRIMEIRA FASE DA COLONIZAÇÃO


Nos primeiros anos, as terras recém incorporadas à coroa portuguesa pouco tinham a oferecer aos interesses comerciais de Portugal.

Os indígenas não produziam nada parecido com as procuradas especiarias das Índias.



Por essa razão os portugueses só se preocu­param em fazer o reconhecimento do litoral das novas terras e manter os curiosos e interesseiros navios franceses e espanhóis afastados.

Dessa forma, mesmo não tendo interesse imediatos nas novas terras, Portugal não permitia que outras nações colonialistas se apoderassem do Brasil.



O pau-brasil: a primitiva forma de exploração



A França não reconhecia o direito de o mundo ter sido dividido entre espanhóis e portugueses, por isso queria apossar-se de parte da colônia portuguesa. Os navios franceses rondavam constantemente a costa do Brasil entrando em contato com os indígenas para explorar as riquezas que a colônia poderia oferecer.


Qual seria essa riqueza naqueles primeiros tempos?


Na Europa, desde a Idade Média, as manufaturas da região de Flandres (entre a Holanda e a Bélgica) utilizavam a tinta extraída de uma árvore para tingir tecidos. Essa árvore era conhecida como pau-brasil, por ser vermelha como brasa. As matas litorâneas da colônia portuguesa eram abundantes nesse tipo de vegetal.




Assim, pouco a pouco. Portugal foi-se voltando para a exploração. Apesar dos negócios com o pau-brasil nunca alcançarem o mesmo volume dos negócios com a Índia, a Coroa estabeleceu o mono­pólio de sua exploração, isto é. somente as expedi­ções oficiais poderiam explorar a madeira.





As primeiras expedições



As primeiras expedições que aqui chegaram não eram empreendimentos com fins lucrativos ou colonizadores.



Entre 1501 e 1502, chegou uma expedição com o objetivo de reconhecimento geográfico maior e, ao mesmo tempo, pesquisa das possibilidades de exploração do pau-brasil. Américo Vespúcio, o navegante italiano que acompanhara Colombo nas primeiras viagens à América, veio ao Brasil nessa primeira viagem e escreveu que nada aqui poderia interessar aos comerciantes da Europa.



Em 1503, o Brasil foi visitado por outra expedição, sob o comando de Gonçalo Coelho, também acompanhado de Américo Vespúcio. os anos seguintes, vieram outras, sob a direção de Fernão de Noronha, com o objetivo de organizar a exploração do pau-brasil.

Mas foi somente depois de 1516 que as expedições, sob o comando de Cristóvão Jacques, organizaram-se mais sistematicamente. Assim que chegaram ao litoral do atual estado de Pernambuco, os portugueses fundaram uma feitoria na região. De lá partiram em missão de reconhecimento do litoral brasileiro até o rio da Prata. No dizer de Sérgio Buarque de Holanda, o fito principal de Cristóvão Jacques deve ter sido o de observar e estorvar, se necessário, os castelhanos em suas explorações nesta parte do continente.



O escambo



A exploração do pau-brasil (ibirapitanga, em tupi) requeria um trabalho bem simples e sem especialização. O caráter predatório da extração do pau-brasil foi responsável pela destruição da maior parte das florestas do litoral brasileiro. Tanto portugueses como franceses utilizavam-se do trabalho indígena no auxílio à extração das pesadas toras das Florestas, pois as tripulações dos navios não eram suficientes para essa dura tarefa. Em troca do trabalho, os europeus davam aos índios produtos manufaturados de baixa qualidade (tecidos, bijuterias etc.). A esse comércio simplificado dá-se o nome de escambo.



Quando, em 1521, subiu ao trono português o rei D. João III, o comércio com as Índias achava-­se ainda no auge. Comerciantes e navegantes lusos monopolizavam as rotas das especiarias.

Esse monopólio começou a declinar quando, nesse mesmo ano, chegou às Índias o navegante Fernão de Magalhães, a serviço da Espanha. Magalhães havia chegado ao Oriente navegando pelo Ocidente.

Nessa mesma época, a Inglaterra e a Holanda começavam a despontar como novas potências marítimas e a concorrer fortemente com o monopólio português.



Por isso mesmo, a manutenção de toda a máquina administrativa e comercial de Portugal tornava-se, cada vez mais, dispendiosa e exigia enormes quantias de dinheiro. O comércio com as Índias começava a declinar. Na mesma medida em que o comércio com oriente diminuía de intensidade, o interesse do governo português pelo Brasil aumentava. Esse interesse aumentou mais ainda depois da notícia da descoberta de ouro e prata na América espanhola.



BRASIL: SOLUÇÃO PARA A CRISE PORTUGUESA




O império colonial português exigia, par sua manutenção, grandes somas materiais. Quanto mais a Coroa portuguesa arrecadava, mais parecia faltar, pois grande parte dos rendimentos era consumida em setores não-produtivos (edifícios suntuosos, artigos de luxo). Os setores produtivos - necessários para a própria continuidade da atividade econômica, como a manutenção da frota, por exemplo ficavam praticamente esquecidos. Eis a raiz da crise da economia portuguesa, apesar da riqueza produzida pelo comércio com as especiarias.



Para suprir seus crescentes gastos, Portugal recorria cada vez mais a empréstimos de grande banqueiros holandeses e alemães, que ficavam com a maior parte dos lucros do comércio português, desviados para pagamento das dívidas. A busca de mercadorias no Oriente ficava cada vez mais cara, e difícil, obrigando a Coroa a voltar seu interesse para o Brasil.



MARTIM AFONSO DE SOUSA: 

O PRIMEIRO PASSO PARA A COLONIZAÇÃO




Uma grande expedição, composta de cinco navios, comandada por Martim Afonso de Sousa, partiu em dezembro de 1530 rumo à colônia portuguesa na América. O comandante Martim Afonso recebeu amplos poderes do rei de Portugal o mais importante era o de distribuir sesmarias, isto é, grandes lotes de terra para pessoas que se dispusessem a explorá-los economicamente. A outra importante função da expedição era o combate aos franceses, que continuavam a ameaçar os interesses coloniais dos portugueses.

Martim Afonso percorreu o litoral brasileiro de Pernambuco até a região de Cananeia, em São Paulo, de onde a expedição rumou para o rio da Prata. O resultado mais notável da expedição de Martim Afonso de Sousa foi a adoção do sistema de donatárias ou capitanias hereditárias, definindo a relação entre colônia e metrópole.



AS CAPITANIAS HEREDITÁRIAS






A tarefa de administrar as novas terras mostrava-se pesada demais para uma nação que não priorizou seus setores mais produtivos. A solução trazida pela missão de Martim Afonso de Sousa se resumia em adotar um sistema semelhante ao utilizado pelos portugueses nas ilhas do Atlântico: dividir a colônia em capitanias ou donatárias, que eram faixas de terra com 50 léguas de costa cada uma (aproximadamente 300 quilômetros). As capitanias foram entregues a particulares (capitães ou donatários) para que as administrassem e explorassem economicamente.

Foi somente no ano de 1534 que se efetivou o sistema. O donatário ou capitão recebia uma carta de doação pela qual o rei outorgava o direito de posse sobre as terras. Em outro documento, chamado foral, ficavam estabelecidos os direitos econômicos e as relações com a metrópole. O sistema de capitanias não teve resultados iguais nas diferentes regiões da colônia.

Na maioria dos casos, a falta de recursos dos donatários impedia a exploração lucrativa. De qualquer forma, o sistema ajudou a efetivação da presença portuguesa, aprofundando a colonização e a dominação da Coroa sobre suas terras.




De fato, apenas as capitanias de São Vicente e de Pernambuco tornaram-se rentáveis. A de São Vicente porque contou com o auxílio de capitais da própria Coroa, e a de Pernambuco porque contou com grandes investimentos de mercadores portugueses.


Havia ainda uma questão contraditória de caráter político em relação ao sistema de capitanias: enquanto em Portugal existia uma tendência à centralização política, na colônia instituiu-se um sistema descentralizado. Isso dificultava a manutenção da autoridade da Coroa sobre os donatários. Essa foi uma das razões por que Portugal decidiu impor um governo-geral centralizado para administrar a colônia.



O donatário de Pernambuco, no entanto, sentia-se prejudicado com a medida, pois a perda da autonomia política implicava a perda da autonomia econômica. De uma forma ou de outra, o caminho para a exploração efetiva da colônia estava aberto.



A AMÉRICA DO NORTE  E A COLONIZAÇÃO INGLESA





A região Norte da América ficou esquecida pelos europeus durante todo o século XVI. Foram feitas algumas viagens exploratórias, mas somente no século XVII iniciou-se seu povoamento e colonização pelos ingleses, que decidiram se apossar da região. Foram criadas, para isso, duas companhias de comércio: a Companhia de Londres, que ocupava a região Sul, e a Companhia de Plymouth, que ficava com o Norte.





As colônias do Norte e do Centro



Eram conhecidas como Nova Inglaterra e dentre elas destacaram-se: Massachusetts, Rhode Island, New Hampshire, Connecticut, New York, Pensylvania, New Jersey.


São chamadas de colônias de povoamento, pois as atividades nelas desenvolvidas não tinham cunho mercantilista. Sua ocupação foi feita por pessoas perseguidas por motivos políticos e religiosos, como os puritanos, da Inglaterra, Holanda, Irlanda e Escócia. Dedicavam-se principalmente às atividades manufatureiras e comerciais, já conhecidas dos puritanos. Também desenvolveram a pesca, já que o mar da região favorecia essa atividade.



Estabeleceram intenso comércio com as colônias britânicas do Caribe (Jamaica, Barbados), que lhes compravam peixes secos e produtos manufaturados (ferramentas, materiais náuticos etc.). Em troca, o Caribe lhes fornecia melado de açúcar, que transformavam em rum, que era trocado por escravos na África. Esses escravos eram vendidos para as colônias inglesas do Sul. Esse tipo de relação comercial é conhecido como "comércio triangular".



As colônias do Sul



Eram as seguintes: Virgínia, Maryland, Carolina do Norte, Carolina do Sul e Geórgia. Por ser uma região de solo fértil e extensas planícies, propiciou o cultivo de produtos tropicais: índigo, arroz e tabaco. Era uma agricultura voltada para o mercado externo, realizada em grandes propriedades empregando mão-de-obra escrava negra, assemelhando-se às colônias ibéricas. Esse tipo de colônia ficou conhecido como colônia de exploração.



A COLONIZAÇÃO FRANCESA






Os franceses praticaram o contrabando no mundo colonial espanhol e português. Fundaram na baía de Guanabara, uma colônia de huguenotes (França Antártica) que fracassou, assim como outra tentativa no Maranhão (França Equinocial), no início do século XVII.




Fundaram uma colônia em Quebec (Canadá) e tomaram a região central dos Estados Unidos, hoje Louisiana; ao lado dos ingleses e holandeses, ocuparam parte das Guianas e estabeleceram, nas Antilhas (Martinica, Guadalupe Trinidad e Tobago e parte da ilha de São Domingos, atual Haiti), uma colônia açucareira, baseada no clássico tripé: monocultura, mão-de-obra escrava e grande propriedade. Entretanto, a França foi perdendo gradativamente seus territórios na América e na Asia, à medida que crescia o poderio inglês.




OS HOLANDESES NA AMÉRICA



A independência das Províncias Unidas do domínio espanhol, em 1609, consolidou a política  econômica mercantilista holandesa, que se fundamentava no desenvolvimento do comércio e das manufaturas.



Em 1621, os holandeses fundaram a Companhia das Índias Ocidentais, que organizou a conquista e a colonização holandesa na América: na América do Norte, foi fundada a colônia Nova Amsterdã, depois ocupada pelos ingleses; na América do Sul, ocupou a Guiana holandesa e algumas ilhas das Antilhas, além de financiar os primeiros engenhos de açúcar no Brasil, o transporte e o refino desse produto. A comercialização do açúcar na Europa era monopólio dos holandeses.





AFINAL, O QUE SIGNIFICOU A COLONIZAÇÃO





O processo de colonização da América estava ligado, intimamente, à consolidação das monarquias nacionais absolutas. O enriquecimento das metrópoles e de suas respectivas burguesias se fez graças à violenta exploração das colônias através do extermínio das populações autóctones e a introdução do trabalho escravo.


Veja também:

O NOME DA ROSA

O Nome da Rosa de Umberto Eco: Análise da Obra O Nome da Rosa  é um livro de 1980 escrito pelo italiano Umberto Eco. Em 1986 foi lançado o...

Não deixem de visitar, Blog do Maffei recomenda: