quinta-feira, 13 de julho de 2017

LEANDRO KARNAL E AS QUATRO LINHAS DE FORÇA: 4.ª O ALUNO



      Leandro Karnal, em seu livro Conversas com um Jovem Professor nos sugere que o profissional da educação deve pensar em quatro linhas de força que devem cruzar quando falamos de uma boa aula, vamos verificar cada uma delas no Blog do Maffei, mas uma por dia:

         A última linha de força de uma aula é o aluno. É a linha mais importante. O aluno é para o professor e que o paciente é para o médico. É o objetivo da sua existência profissional. Há uma inversão tradicional da função pedagógica: considerar o aluno um problema para a escola. O comportamento do aluno pode ser um problema: ele não é um problema. Voltamos à metáfora médica: a doença é o problema, o doente não é.
         Estamos diante de um dos dilemas mais curiosos do ensino: você pode combater o mau comportamento, mas sempre lembrando que o aluno é seu objetivo maior. Separar essas coisas é difícil e, como eu, provavelmente você vai errar nesse campo.
         Os cristão medievais tinham uma regra que podemos adaptar com sucesso: odiar o pecado e amar o pecador. Sabe a consequência disso? Se entendermos a ideia bem, significaria deixar claro que eu não admito a bagunça porque ela é inimiga do aluno e não exatamente minha. Do ponto de vista ideal, que o aluno sinta que nunca é pessoal, que ele não é o problema, que eu posso até pedir que ele se retire da sala, mas porque, e unicamente, ele está impedindo a ele e à turma de atingirem o resultado. É preciso muita maturidade para isso. Quase ninguém tem. Eu não tive muitas vezes.
         Acho que a coisa mais óbvia de todas eu levei muitos anos para entender. Existem fichas de avaliação, padrões, tabelas e até notas para se dar ao professor. A mais importante sempre esteve bem diante de mim: o olhar dos alunos. Eles dizem, com absoluta naturalidade, sobre o andamento de tudo. Aprender a ler seus olhos. Os olhos dos seus alunos são o espelho da Branca de Neve: dizem tudo o que você perguntar. “Não estamos entendendo, não tenho interesse, estou adorando, você fala alto demais, não estou ouvindo”: tudo está lá. Passei muitos anos achando que eu deveria falar mais e agir mais. Hoje acho que devo ver e ouvir mais.

         Há poucos bons professores. Há muita gente que dá aula bem. Acho que o ponto principal que diferencia um do outro é a capacidade de olhar para seu aluno e se sentir junto com ele. Não confundam essa reflexão, por favor, com a ideia de que você deve oscilar tudo que faz em função do olhar de agrado e desagrado do aluno. Aqui vem a parte mais importante (e difícil): conhecer o olhar do meu aluno é conhecer meu ponto de partida, não meu objetivo final. Educar pode ser (e com frequência é) contrariar a vontade imediata do aluno. O olhar dele, a sensibilidade para com ele é seu ponto de partida. É quem diz quanta energia, quanta imaginação, quantos recursos você terá de realizar para que o olhar dele chegue ao ponto que você deseja. O olhar dele não é seu horizonte, mas sua possibilidade.

2 comentários:

  1. Adorei a perspectiva.
    Ter professores que enxergam os alunos assim não é tão comum, mas existem.
    Parabéns, professor!
    Belo post.
    Que se espalhe por mais profissionais da área👏

    Abraços.

    jovensmaesblog.blogspot.com

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  2. Obrigado Bruna. Peço desculpas pelo tardar da resposta, mas fiquei muito feliz com seu comentário.

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